quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O paradoxo do caminhão de lixo

A primeira vez que saíram não foi marcada por um beijo. Estavam voltando da casa de um amigo quando, numa avenida movimentada da cidade, parou ao lado deles um caminhão de lixo. Ele tapou o nariz e ela puxou a gola da sua camisa e começou a cheirar. – Que cheiro bom, dizia ela. Ele, meio encabulado, agradecia o elogio. Com o tempo, os dois se tornavam íntimos e coincidentemente, todas as vezes que saíam, o “maldito” caminhão de lixo estava lá e ela sempre repetia o mesmo gesto de cheirar a camisa dele. Às vezes não só a gola, mas também o pescoço. Às vezes não só um cheiro, mas também um beijo, um suspiro ou uma mordida acompanhavam o seu gesto. Certa vez ele quase bateu o carro, devido à intensidade do cheiro que ela lhe deu. Mas intensa ou não a cheirada, o caminhão sempre estava lá. Criou-se um paradoxo: como algo tão desagradável pode se tornar tão esperado num encontro de um casal? Não importava o motivo para ele. O que importava era que independente do lugar onde eles fossem, haveria sempre a espera do deja vu da chegada do caminhão de lixo para o cheiro no pescoço.

3 comentários:

  1. Rpz, eu mergulhei no PARADOXO DO CAMINHÃO DE LIXO e me lembrei de um acontecimento bem parecido tempos atrás... hilário!!! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Não é incomum de acontecer. Esses dias rolou comigo.

    ResponderExcluir