quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Coisa de criança

Estavam os dois sentados na mesa de um bar no meio da semana. Comemoravam uma conquista que ela desejou compartilhar com ele. Beberam algumas cervejas, conversaram sobre trabalho, família, anseios. Já não sabiam mais um do outro como antigamente. Não eram estranhos, mas a intimidade não era a mesma. A comemoração era por algo que ela sempre desejou e que, quando estavam juntos, ele lhe deu apoio. Ele tentava ler os seus pensamentos e ela tentava entender o porquê de estar ali sentada ao seu lado. Fazia anos que só se falavam cordialmente. Por que aquela vontade súbita de compartilhar suas vitórias com aquele que já não era mais seu? Pediram a conta, pagaram e saíram. Um silêncio constrangedor se conservou durante o trajeto de carro até o bairro onde ela morava. Ao passar por uma rua meio isolada, ele perguntou se ela queria tomar sorvete. Ela aceitou e desceram do carro. Ela pediu de coco e ele de morango com chocolate. – Coisa de criança! - ela dizia. Ele sorriu e disse q só tomava desse sabor. Encostaram-se no carro, que estava estacionado embaixo de uma amendoeira. Coisa de criança, tomar sorvete de tarde embaixo de uma árvore. Ele, sem graça, nem olhava para ela. Conversaram sobre qualquer coisa, só para cortar o silêncio. Ela chegou perto e disse que sua boca estava com gosto de coco. Então, ele a beijou. Um selinho, inocente, só para sentir o gosto. Ela sentiu seu coração disparar. Não esperava que ele tomasse essa atitude. Foram anos de silêncio e de uma hora para outra se via ao lado daquele homem que um dia amou. Pediu para ir embora. Terminaram o sorvete e ao entrar no carro, ele a puxou e lhe deu um beijo longo. Ela retribuiu. Sentiu vontade de rasgá-lo em pedaços. De morder, de arrancar sua roupa ali mesmo. Ele se afastou, ligou o carro e a levou para casa. No caminho ela tentava entender o que era aquilo. Por que depois de tantos anos, voltava a sentir tudo novamente? Ao descer do carro, ficou com a sensação de que deveria ter ficado. Ele, ao ir embora, ficou com a sensação de que não deveria ter partido.

2 comentários:

  1. O silêncio é só uma vírgula. É como uma respiração forte que te dá um gás pra recomeçar. O amor nos une e nos separa a todo o instante e nesse paradoxo é que construimos a cada dia uma relação. No meu caso nunca quero deixá-lo ir embora, mesmo nos momentos mais simples. O amor me faz carente de tudo e egoísta ao extremo. Amor é saber respeitar o seu desejo e te dizer o meu para que juntos haja o equilibrio. Não sabia o que era amor até encontrar você.

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  2. Ohhh Dan, chocolate não nem coco, mas o MORANGOOO ai sim, é comigo... mergulhei em cada palavrinha e senti o gosto do sorvete. Que coisa linda de se escrever e de nos presentear!!! Seus fiéis seguidores só tem a agradecer. O-B-R-I-G-A-D-A!

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